Penso, logo existo.
É...Descartes acertou, nós existimos. Nós seres pensantes, que vivemos de um lado para o outro, pensando no que fizemos, no que estamos fazendo, no que vamos decidir fazer! Será que ele não tinha uma frase que ajudasse a alguém esvaziar a cabeça de certos pensamentos?Pelo menos por algumas horas, pra que a cabeça se recomponha. Mas não...às vezes eu tenho saudades daquela época em que eu só fazia ouvir a conversa dos adultos, e pensava: isso eu concordo, ou isso eu não concordo. Bem simples né? Aí percebo que meu cérebro de ameixa desidratada começa a funcionar corretamente, e uma chuva de perguntas caem na minha cabeça.As principais são: Porque?Quais os motivos que te levam a pensar dessa maneira?Se você discorda significa que você tem uma visão diferente:que visão é esta?Que argumento você tem pra me dar? Adquiri o hábito, cansativo mas que é de meu direito, de opinar. E daí que começa a malhação de meu pobre cérebro, que a essas alturas, já está do tamanho de um melão maduro, que está quase explodindo. Você tem opiniões, argumenta a favor delas, discute com pessoas que também tem suas próprias opiniões, e muitas delas mudam de opinião a cada semana, dia, hora, minuto! Isso é só o começo.
Quando digo que minha vida não é fácil, não me refiro só à condição financeira que me encontro, embora ela tenha um peso enorme na hora de tomar certas decisões. E são as decisões, essas malditas decisões, que estão atormentando meu cérebro. Primeiro de tudo: não me encontro neste curso.Desenvolvi uma série de argumentos, sobre o porque de entrar nele, de porque não Medicina como eu vinha martelando desde que comecei a pensar feito gente de verdade. Não me arrependo de ter desistido de Medicina, isso não é pra mim. Mas este curso, o de Gastronomia, me tira do sério. Os professores (não todos, mas a maiora), nos dizem na cara, que somos a pior turma que já tiveram. Perguntam se estamos desestimulados.Ninguém tem coragem de dizer, porque ninguém na verdade sabe o que quer alí! Como é que alguém chega com uma apresentação de slides, vomita o assunto em você(falando errado, que é uma coisa que fico louca da vida!) quase sem respirar, e no fim da aula diz que estamos desestimulados, que somos os piores?Somos sim!Pelo menos eu sou! Se eu não estou gostando, pra que vou fingir que gosto?ODEIO hipocrisia, primeiro porque é ridículo e segundo porque eu mesma, nem que quisesse, consigo ser. Quando estou com raiva, entediada, sem saco, não consigo fingir, é demais pra mim. Com este problema do curso se acrescentam outras coisas: não tenho dinheiro pra investir em mim, não tenho tempo pra arranjar um emprego, já que este curso estúpido é à tarde e não existe um estágio sequer pra compensar, nem que seja financeiramente, esse pé no saco diário. - E aí? -perguntará você com as mãos na cabeça, sentindo seus fios de cabelo abandonarem o couro cabeludo. Nessas horas conto com meu pai, que além de pai, é o meu melhor amigo, que me dá conselhos pra que eu possa pensar e fazer a coisa certa. Já conversamos tanto sobre isso, que acho que podíamos escrever um livro, intitulado “Diálogos entre pai e filha- agüente se puder”. Ele não só percebeu o meu desespero, como me apoiou, e se ofereceu pra me pagar um cursinho pré-vestibular, coisa que nunca fiz na vida, pra que eu fizesse o Enem no fim do ano. Recusei. Pra que vou fazer um cursinho pré-vestibular, sangrando o bolso do meu pai, se não terei certeza que vou passar, já que as coisas mudaram, e o mais importante: O que é que eu quero?
Essa é a pior sensação que já experimentei, e olha que já passei um mau-bocado nessas oscilações financeiras, emocionais, psicológicas e afins. Como, eu pergunto, como eu não sei o que eu quero da vida?Meu pai diz que é normal, que eu ainda sou nova pra descobrir.Mas mesmo sendo nova, eu não deixo de pensar nisto. Me sinto uma inútil, pois estou fazendo uma coisa que não gosto, e pra que?Pra não ficar em casa estudando, lavando pratos nos intervalos, pra fazer uma prova no fim do ano, porque eu não quero cursinho pré-vestibular nem pensar! Já falei com meu pai,hoje, dia 29/03 aniversário da minha mãe, sobre esse dilema que minha mente vive. E ele entendeu, e me aconselhou, falando sinceramente como sempre: “não temos condições de lhe manter da melhor forma possível. Você vive essa realidade há muito tempo. Você já sabe a solução. Faça um concurso público para arranjar um emprego bom e fixo. Se você conseguir ótimo.Quanto à sua faculdade, se não der pra conciliar com o trabalho, tranque, já que você não gosta desse curso. Com uma renda boa, você pode investir em si mesma, como cursos de idiomas, aulas pré-vestibular e no fim do ano você tenta de novo. Enquanto isso você trabalha, ganhando seu dinheiro, sua experiência e tempo pra pensar no que você quer. Aproveite enquanto você está nova. A hora de virar a mesa é agora. Não espere ficar mais velha pra arriscar”. Não foram exatamente essas palavras, mas a essência é esta. Esse assunto me dá mais dor de cabeça do que meus dentes cisos que estão nascendo, empurrando os outros, quase me forçando a usar aparelho fixo (que fique registrado aqui, que eu NÃO vou usar aparelhos fixos, não vou mesmo!¬¬’).
Saber que uma simples decisão, vai mudar minha vida, o jeito que venho vivendo, me dá medo. É aquela famosa “zona de conforto” que me encontro, que me deixa maluca. Sempre que conversava com pessoas mais velhas, escutando seus conselhos, me sentia impotente, presa a uma escolha que fiz no ano do vestibular e presa a uma realidade que começou no ano seguinte. Mas se, com pouca coisa, posso mudar minha vida pra algo melhor, irei mudar. Já tomei cerca de 85% das decisões que já devia ter tomado a muito tempo. Acho que chegou a hora de agir, pra que eu não seja engolida de vez por esse sistema maluco. Apesar de ser nova, estou cansada desse meu modo de viver, de tomar decisões baseadas nesse meu curso universitário, que até agora só vem me estressando. Desde que o ano começou, eu tive a plena certeza de que ia ser breve a hora de começar a me mexer. E a hora chegou.
